quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Helvetica!

Helvetica, a fonte, faz 50 anos em 2007.

Para quem não é iniciado no mundo do design, uma fonte é uma tipografia, um conjunto das letras e números que seguem um mesmo conceito visual, um estilo, que inclui desde a presença ou não de serifas (aquele pezinho embaixo do “t” ou à direita do “a”), a qualidade das curvas, o espaço entre as letras, todo uma gama de frescuras que fazem uma incrível diferença (tenho que perguntar aos meus amigos designers qual é a correta definição do que seja uma fonte).

A figura acima mostra algumas letras escritas nessa fonte chamada Helvetica. Repare o leitor alguns aspectos importantes sobre ela: primeiro, pode ser na versão mais gorda (bold, negrito) ou mais magra (light, thin), inclinada (italic) ou não, que ela não perde seu conceito; segundo, é uma fonte elegante, leve, agradável, simples e limpa (clean), que faz até kunstgewerbeschule parecer frugal. De fato, se você escrever algo como “Não pise na grama” com Helvetica, não é sequer necessário finalizar com “por favor”, pois a polidez da fonte já o traz em si. Olhando assim, para essa aparente candura, quem diria que Helvetica é por muitos considerada uma ferramenta subliminar cruel para massificação da globalização imperialista ocidental?

Tudo isso está no documentário Helvetica, do diretor americano Gary Hustwit (http://www.helveticafilm.com), a que assisti no IFC Center – outro dos cinemas para os novaiorquinos inteligentes. Não preciso dizer, o filme é delicioso.

Começa contando sobre o projeto da fonte por seus dois criadores, Max Miedinger e Eduard Hoffmann, em 1957, para a empresa de tipografia Haas Type Foundry, em Münchenstein, Suíça. O lugar onde ambos a desenvolveram está lá até hoje, claro. Naqueles anos, o design europeu vinha atualizando antigas fontes não-serifadas, como a alemã Akzidenz Grotesk, e o filho do Hoffmann nos mostra os registros das considerações de seu pai, funcionário da Haas, sobre a tipologia imaginada Miedinger, designer freelancer contratado pela empresa para tal. A fonte foi chamada inicialmente Neue Haas Grotesk, um nome que, com razão, seria considerado inapropriado para o mercado internacional (leia-se americano), então mudaram para Helvetia – que é a versão em latim para “Suíça” – e finalmente Helvetica.

Aproveitando-se de uma onda de popularidade do design suíço, Helvetica pegou. Começou a aparecer em logotipos de grandes empresas (Jeep, Lufthansa, Microsoft, Panasonic, Adidas), e o documentário entrevista alguns dos grandes designers da época, ainda em atividade, como o italiano Massimo Vignelli, criador da marca da American Airlines e de toda a programação visual do Metrô de Nova York, usando sempre Helvetica. Na opinião dele, não haveria motivos para usar outra fonte, já que Helvetica é perfeita para todos os propósitos. Segundo essa corrente, o que importa para a comunicação é a mensagem, portanto a tipologia deve ser neutra, além de elegante, e não “falar por si” ou chamar a atenção para si.

A influência de Massimo e outros designers famosos acabou transformando a fonte numa moda, quase uma sugestão, que se espalhou no mundo, e se agravou quando, em 1984, os computadores Apple Macintosh adotaram Helvetica como sua fonte padrão (default), e a partir daí, tornou-se tão comum aos olhos ocidentais que parecia ter sido criada por Deus. O documentário percorre sete países (Estados Unidos, Inglaterra, Holanda, Alemanha, Suíça, França e Bélgica) e entrevista dezenas de designers escritórios (além de Masimo, Erik Spiekermann, Matthew Carter, Wim Crouwel, Hermann Zapf, Neville Brody, Stefan Sagmeister, Michael Bierut, David Carson, Paula Scher, Jonathan Hoefler, Tobias Frere-Jones, Experimental Jetset, Michael C. Place, Norm, Alfred Hoffmann, Mike Parker, Bruno Steinert, Otmar Hoefer, Leslie Savan, Rick Poynor, Lars Müller, entre outros), mostrando sua predominância na comunicação visual urbana, desde out-doors a cartazes, folders e mensagems como “Puxe” ou “Empurre” portas, indicando que profissionais e amadores a utilizam quase sem pensar, ou mesmo quando pensam – a qualidade da fonte pesa até para aqueles que tentam fugir dela, como Eric Spiekermann. Paula Scher (NY) estimou seu uso nos EUA em 50% de todo material gráfico material produzido atualmente.


Mas nos anos 90, grupos de designers revolucionários de esquerda começaram a se rebelar com tamanha hegemonia, desenvolvendo uma arte visual independente do império de Helvetica, como David Carson, conhecido no Brasil pela proposta visual da revista Trip, ou Stefan Sagmeister, da Rolling Stones. Ou então, como Michael C. Place e Danny van den Dungen, passaram a adotar a fonte inserida em conceitos novos, menos dogmáticos, mais livres, sem acreditarem em um suposto “monstro da globalização” e uniformização estética mundial.

A frase mais engraçada, e que fecha a questão, fica por conta do suíço Manuel Krebs, que diz sem afetação: “se você não for um profissional de design, use Helvetica, em preto com fundo branco, vai ficar bom. Sempre.”

3 comentários:

Claudia Tojek disse...

Entao, eu ainda vou ler o que esta para ser lido mas eu estou tendo meus pensamentos sobre o quao esquisito e diferente e pra gente entender que o americano tem que conviver com pessoas do mundo inteiro que se voce parar literalmente pra pensar INVADIRAM o pais deles e enfim estao aqui, dando o melhor de si pra defender the qualquer.
And believe me tem MUITA gente boa de outros paises com diferentes profissoes ex tipo eu sendo dental assistant mas eu actually sou dentista...you know you are mean?
Eu nao vim aqui porque estava passando fome no meu pais mas imagina quanta gente veio por esta causa??????????????

Claudia Tojek disse...

Eu queria que voce escrevesse a respeito disso a little bit...
If possible...

Marcos Gonzalez disse...

Sim, ando pensando muito sobre isso também, que coisa incrível, né? Cada pessoa com quem eu falo é de um país diferente, como é que pode isso dar certo? E cada um tem sua história, muito doido...