quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O valor da arte

Fui ao cinema, no Angelika Film Center, que fica no East Village. É um dos cinema dos moderninhos de NY. Fui assistir, sem saber do que se tratava (coisa que adoro fazer, às vezes dá certo, às vezes dá errado), ao filme The Rape of Europa (therapeofeuropa.com), e só quando começou que eu soube que era um documentário. Saí estarrecido.

O filme narra a trajetória do Nazismo e da Segunda Guerra na Europa, e os problemas, entre tantos outros, que isso representou para as peças de arte e religiosas. Hitler, que tentou ser artista em certo momento de sua vida, havia traçado um plano sinistro – mais um, e como sempre ambicioso e delirante - de construir a maior coleção para o maior museu da história, a ser projetado por seu arquiteto Speer, literalmente roubando as grandes obras de arte dos países que pretendia conquistar, obras que, na sua visão, fossem significativas para a raça ariana, destruindo o resto que considerasse inferior – obras, museus e igrejas. Ao anexar a Áustria, começou a fazê-lo com as obras de Gustav Klint; quando invadiu a Polônia, retirou as imagens sagradas da secular igreja de Varsóvia, principal símbolo da cidade, colocando-a abaixo em seguida, com o objetivo de humilhar a memória do povo polonês. Terrificadas, França e Rússia iniciaram incríveis esforços de encaixotar e retirar todas as obras – pinturas, painéis imensos, esculturas muitas vezes gigantescas, vasos, tudo! - dos museus nacionais do Louvre e do Hermitage, em São Petersburgo, escondendo-as em Castelos no sul da França e na Sibéria, enquanto seus cidadãos fugiam desesperados e seus exércitos se preparavam para o pior. Tudo isto é retratado com fotos, filmes da época e depoimentos de sobreviventes ou descendentes dos personagens envolvidos. À medida que os aliados começam a virar o jogo, são os alemães que passam a esconder as obras, às vezes às pressas, ou pior, usar prédios históricos como escudos contra bombardeios. O documentário mostra, por exemplo, um grande erro dos aliados, ao decidir pela destruição de Monte Casino, um mosteiro medieval na Itália que não abrigava um só alemão, apenas moradores da região e monges – os alemães estavam em volta. Em Piza, onde também foi destruído um castelo, até hoje estão sendo remontados, com os milhares de cacos encontrados nos escombros, os afrescos que cobriam suas paredes. Outra cena estarrecedora são as fotos e depoimentos de uma velhinha italiana sobre a explosão de algumas pontes em Florença, uma deles projetada por Michelangelo, por parte dos nazistas que batiam em retirada, acuados pelos aliados. E depois da guerra, ainda era preciso restaurar e devolver tudo aos seus donos, o que continua sendo feito até hoje por pessoas dedicadas a tal.

Uma questão que permeia o documentário é a importância de salvar obras de arte versus vidas humanas. Mas um dos depoentes, um professor polonês, de certa forma é quem melhor desfaz a dualidade. Uma vez indagado por alunos, por que a igreja de Varsóvia devia ser reconstruída, sua resposta era “pelos mesmos motivos que a destruíram”. A igreja era um símbolo do povo polonês.

Um comentário:

Unknown disse...

Hi Marcos, que banho de cultura, hein? Na grande New York, a cidade do "Mundo", estou vendo que está aplicando da melhor maneira possível a junção do útil com o agradável .... Impressionante sobre o filme documentário, The Rape of Europa, acontecimentos marcantes da era " Führer Deutschlands "... Congratulations !!! Seus relatos estão sendo muito bem redigidos ....like " Machado de Assis " ... Em breve quem sabe serie eu que estarei relatando meu Blog de New York ... grande abraço ..Eduardo