quarta-feira, 19 de setembro de 2007

NY: Quatro séculos de história em uma postagem

Passando uma temporada em Nova York, a cidade dita “como nenhuma outra”, “inesgotável” ou “a mais cosmopolita do mundo”, nota-se o quanto ela deve à sorte de ter acolhido gente de todos os continentes. Com seus 8 milhões de habitantes e cerca de 18,7 milhões de habitantes na sua área metropolitana, a região onde se encontra é a segunda mais populosa da América do Norte, sendo superada apenas pela Cidade do México. Quase a metade dos habitantes não tem o inglês como língua mãe, e 20% mal falam o inglês. A convivência mais ou menos harmônica de culturas aqui é diferente da brasileira, onde ocorreu uma considerável miscigenação dos povos; em Nova York as culturas não parecem ter se misturado, e sim formado redes de relacionamento que mantiveram preservadas suas identidades, na medida do possível. Assim, enquanto sérvios servem pizza, judeus ortodoxos vendem calcinhas. Conhecer a história de Nova York ajuda, portanto, a entendê-la melhor.

Em 1624, um grupo de assentadores da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais chegou à Manhattan (“Manahata” no original indígena, ou Ilha das Colinas), estabelecendo entreposto comercial no sul da ilha. O norte da região era colonizado por ingleses (New England), e para defender seu território, o governador Peter Stuyvesant ergueu, em 1653, o muro que explica o “wall” de Wall Street.

A prosperidade econômica da região começou a atrair imigrantes espanhóis e judeus e africanos. Em 1654, chegam os primeiros judeus, expulsos de Portugal. Dirigiam-se, na verdade, para o Recife, onde já estavam os holandeses e que, sendo protestantes, toleravam-nos. Mas os holandeses haviam sido expulsos do Brasil, então os mal-informados judeus não puderam sequer desembarcar. Famintos e espoliados por piratas, apenas os sobreviventes chegaram em Nieuw Amsterdan, onde foram recebidos de braços abertos. Mas a prosperidade também atraiu a cobiça. Entre 1652 e 1674, pelo menos três guerras pelo controle da cidade foram travadas entre Países Baixos e Inglaterra, que acabou finalmente tomando-a e rebatizando-a como Nova York em homenagem a James, Duque de York.

A cidade cresceu rapidamente sob controle inglês. Em 1700, a cidade possuía uma população de sete mil habitantes, e ruas e estruturas cobriam a parte inferior de Manhattan. Surgem os primeiros jornais e faculdades, as primeiras questões relativas à liberdade de expressão e, com elas, os primeiros movimentos subversivos. Em 1765, comerciantes juntaram-se no centro na cidade, protestando contra novos impostos criados pelos britânicos; em 1770, habitantes da cidade enfrentaram soldados britânicos, tendo uma pessoa morrido em combate. Em 1776, George Washigton lê a Declaração de Independência para uma tropa que representaria Nova York na luta das 13 Colônias pela independência da Inglaterra, fato concretizado em 1789. Washigton é seu primeiro presidente, tomando posse na cidade que viria a ser a sede provisória do novo país por um ano (passando então para Filadélfia).

Por volta de 1800, Nova York tinha cerca de 60 mil habitantes, e já era a maior cidade dos Estados Unidos. Em 1811, a municipalidade de Nova York, buscando melhor planejar o crescimento da cidade, que até então crescera desordenamente, decidiu que toda via pública construída teria que correr em linhas paralelas, num sentido norte-sul (avenidas) ou leste-oeste (ruas). O Canal de Erie, aberto em 1825, permitiu acesso dos Grandes Lagos ao Oceano Atlântico, e Nova York consolidou-se então como o principal centro portuário norte-americano, ultrapassando a cidade de Montreal. Em decorrência, um número crescente de bancos e companhias financeiras escolheram a cidade como sede, contribuindo para seu o rápido crescimento.

Nova York tornara-se a terra das oportunidades, atraindo os imigrantes europeus. Entre 1880 e 1930, 12 milhões de imigrantes europeus entraram na América por Manhattan, em busca de uma vida melhor. Até o final do século XIX, a maioria era procedente da Alemanha, Irlanda, Inglaterra, Suécia, Noruega ou Dinamarca, mas após 1890, principalmente italianos e judeus. A miséria encorajou sicilianos e napolitanos a criarem a Little Italy, logo acima do distrito mais antigo; dois milhões de Judeus, fugindo dessa vez de perseguições na Rússia, criaram suas próprias comunidades no Lower East Side.

A construção de inúmeras pontes e de um eficiente sistema de metrô, conectando Nova York com os subúrbios (Bronx, Queens, Brooklyn), facilitou a locomoção de pessoas e veículos ao longo da cidade. Como consequência, muitos habitantes abandonaram Manhattan, movendo-se para outras regiões. A ilha, porém, continuou como seu distrito mais poderoso, e um dos principais centros financeiros do mundo. Por volta de 1905, a importância de Nova York no cenário da economia mundial havia ultrapassado àquela de Londres. Surgem os primeiros milionários da história mundial, consolida-se um estilo de vida, e contra ele o primeiro atentado terrorista, em setembro de 1920 (falo mais sobre isso quando der).

Em 1930, já com mais de sete milhões de habitantes, Nova York foi atingida pela Grande Depressão. Para resolver os grandes problemas socio-econômicos, grandes estruturas, como pontes e prédios foram construídos. Houve também uma corrida, pela construção do prédio mais alto na cidade, que resultou nos grandes arranha-céus como o Chrysler Building e o Empire State Building.

Após a Segunda Guerra Mundial, Nova York seria afetada por inúmeros problemas, basicamente decorrentes da pressão demográfica - poluição do ar e da água, congestionamentos nas vias e no sistema de transporte público, favelização, alta taxa de criminalidade, conflitos raciais, desabastecimento de energia, desemprego, emigração de sua classe média – que só viriam a ser contornados na década de 90, quando passou de uma metrópole em decadência para uma cidade global em plena revitalização, em boa parte ao investir no turismo como solução para geração de novos postos de trabalho e inibir as zonas de tensão.

Um comentário:

Claudia Tojek disse...

Oi Marcos!
Eu estou chokita com a sua cultura.
Voce puxou a Myrna.
Eu (nao e que meu pai nao seja culto, mas eu sou tipo quem sao todos esses donos?)
Beijos e infelizmente voce nao deu sorte com shows.
O cypress vai tocar aqui em 31 de outubro no house of blues.
E eu vou FINALMENTE ver o Robben ford daqui ha? ou a? duas semanas.