segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Jimmy

“Você tem que procurar o Jimmy!” – sugeriram minhas irmãs Silvia e Bia, que conheceram esse novaiorquino no Rio, mais especificamente no Clube dos Democráticos – “O Jimmy, ele... você vai gostar do Jimmy, ele é um barato!”, elas não conseguiam me dizer por que o Jimmy era um barato, mas eu acreditei nelas. Quando não se consegue explicar por que uma pessoa é um barato, é porque ela o é; ao contrário, se me vêm com “você precisa conhecer o fulano, ele é um gênio desse negócio de computador”, já fico achando que o sujeito é um chato de galocha. “Procurou o Jimmy?”, insistia a sempre animada Silvia, mas eu alegava que precisava desses vinte dias batendo perna, conhecendo a geografia da cidade, justamente para aprender a me locomover nela. O que eu não queria era ligar para o cara sem saber lhufas, depois ele podia se sentir na obrigação de me levar de volta ao Bronx, que é a caixa-prego daqui, nem pensar. Mas então vinha a Bia: “O Jimmy, no caso...”

Enfim, mandei um email para ele, tipo “Hi, I’m Marcos, Silvia and Bia’s brother, from Brazil” etc., vai e volta, marcamos de assistir um show de blues no Village. O ponto de encontro foi no Bar Next Door, 129 MacDougal St, entre 3rd e 4rd. Eu estava todo me achando, literalmente, pois sabia exatamente onde era isso, já me perdi naquelas bandas pelo menos umas cinco vezes. Ao chegar no endereço combinado, porém, dei com um restaurante italiano, La Lanterna di Vittorio, e só então me lembrei que não sabia nada sobre o Jimmy, se gordo ou magro, alto ou baixo, nem mesmo a idade dele eu sabia, e em se tratando de minhas irmãs, podia ter qualquer coisa entre 15 e 20 anos. Um sujeito com cara de roqueiro das antigas, ex- Hell’s Angel, cavanhaque e tatuagens no braço, parou por ali, e eu o abordei: “Você é o Jimmy?” Não era, e eu paguei uma de viado, embora em Nova York isso até pegue bem.

Entrei no La Lanterna, todo à luz de velas e uma varanda romântica ao fundo, contei meu problema para o gerente, um velhinho italiano, talvez o Vittorio em pessoa, enquanto adentrávamos o estabelecimento:
– Procuro um sujeito chamado Jimmy.
– Como ele é?
– Não sei.
– Não conheço nenhum Jimmy.
– Nem eu.

Ao sair, finalmente o Jimmy estava lá fora, fumando um cigarro. Não achei o Next Door porque ele fica abaixo do nível da calçada, ou seja, no porão. Muito legal, um pub meio cavernoso e escuro, o teto a uns 10 cm acima da minha cabeça, um clima de jazz generalizado, mas sem fumaça, já que em Nova York é proibido fumar em bares e restaurantes. Estava lá um amigo do Jimmy, Paul, e ficamos batendo papo no balcão, tomando uns drinques. Tanto o Jimmy quanto o Paul falam bem o português, fluentemente, já que ambos têm muitos clientes no Brasil e América Latina (e o Jimmy foi casado com uma brasileira); os dois se conheceram, inclusive, na Varig – hoje Jimmy é representante de uma fábrica de papel que vende para os grandes jornais daqui, o Paul trabalha num banco.

O Jimmy fala não só o português, mas também espanhol, italiano (ele é filho de), francês e, acreditem, inglês. Como novaiorquino, é uma decepção: atencioso, bem humorado e inteligente, conhece o Brasil de norte a sul, adora o país pelo que ele tem de caloroso, e não é à toa que minhas irmãs se encantaram com ele. O Paul, que estava numa beca mais gravata e pasta de trabalho, é outra figura. Perguntei-lhe sobre o que fez no Brasil e ele ficou alguns segundos pensativo, antes de responder meio cinicamente: “é uma longa história”. E a contou, de um jeito engraçadíssimo, falando baixo, num português pausado e explicado.

Saímos antes do show de jazz começar, nos despedimos de Paul – ele ia para casa, enquanto eu e o Jimmy fomos jantar num mexicano próximo – mas antes nos deu cópias da coluna do José Simão, da Folha de São Paulo (estado com que ele mantêm maior contato profissional), que ele imprime na internet para aprender piadas e bobagens de brasileiros. Morria de rir, por exemplo, com os comentários sobre um campeonato de futebol gay que está havendo na Argentina, cuja organizadora tem o sobrenome “Rola”, ou uma foto de uma lanchonete em São Paulo chamada “Piriri”. Outra coisa com que nos divertimos foram as versões de termos brasileiros em inglês, como “little country girl” (caipirinha) e “little cry” (chorinho). Me lembrei, claro, de minhas irmãs e também das Denises, Reis e Barros.

Eis o Jimmy, conversando com a Silvia no restaurante mexicano. À base de cerveja, burritos, quesadillas e umas três tequilas cada, falamos de tudo um pouco, de nossas irmãs (ele tem cinco, e como eu, é o único homem: “I know your pain, brother” – disse ele, brincando), mulheres e filhas (ele tem uma filha que mora com a mãe no Brasil e estuda biologia), férias (12 de outubro, descoberta da América, é feriado aqui, o Columbus Day, e ele vai com a namorada russa para uma bela região de vinhedos na ponta de Long Island, a ilha vizinha a Manhattan), do Brasil, dos americanos, de Nova York, enfim: botamos o papo em dia. Marcamos de ir a um jogo dos Yankees, e o Jimmy ainda ficou de ver com um primo dele, John, que trabalha no MoMA, se eu poderia ir lá no dia que o museu está fechado para a gentalha. Imaginem isso! O cara fala português também, e sabe tudo de Modernismo. Já troquei emails com ele, marcamos para o dia 16.

Dali, fomos para o Terra Blues, assistir ao show do Lil’ Ed & the Blues Imperials, banda de blues puríssimo de Chicago, na linha “Ma baby is gone”, cantado e tocado daquele jeito que só quem traz toda a história da música negra americana na carcaça é capaz. O pequeno Ed, de turbante (Lil’ é uma abreviação de little misturada com Williams, seu sobrenome), é incrivelmente parecido com o ator Cuba Gooding Jr., o mesmo sorriso escancarado e até as mesmas caretas, só que mais velho; o homem toca uma sensual slice guitar ao modo clássico, sendo desnecessário descrever-lhe a competência. Michael Barrett faz a guitarra base, mas defende seus solos com muita elegância, introduzindo algumas sutilezas do jazz branco. No baixo, James "Pookie" Young é o que todo baixista deveria ser: um baobá negro de chapéu, impávido colosso; o baterista, Kelly Littleton, também segue a incrível tradição de não parecer um baterista – se encontro na rua, diria um matemático ou filósofo. Veja mais sobre a banda em http://www.intrepidartists.com/liled.html. A seguir, minha montagem de fotos que tirei durante o show, para vocês sentirem o climão.


No intervalo do show, meia-noite, saímos para um cigarro e formamos, sem querer, uma roda com uma irlandesa bêbada comédia, um americano que tava pegando ou tentando pegá-la, e um israelense cabeludo. Papo surreal. Jimmy precisou ir embora, pois no dia seguinte era dia de branco. Eu disse que ficaria até o fim. Diante de sua preocupação, eu lhe garanti que sabia como voltar para casa. De fato, peguei o metrô às duas, cheguei às três, bêbado, exausto – pois estava na rua desde as cinco da tarde – mas feliz pela grande noite.

O Jimmy... considero pra caralho o Jimmy! Vocês precisam conhecer o cara.

5 comentários:

Claudia Tojek disse...

Escapamos por pouco hoje meu irmao!
Achei que meu carro tinha sido roubado ja que nao estava na rua onde estacionei noite passada supostamente num lugar passibel de se estacionar!
fiquei imaginando que iriamos a pe pra Vegas!
Chrondo, liguei 911 e the female police told me seu foi rebocado e nao roubado!
$ 184,15 de multa!

Claudia Tojek disse...

I typed wrong;
correcao:
Possible e nao passibel.
Chorando e nao chrondo.

CBarros disse...

Vocês são sofredores? Claro que não! Imagine este mundo de mulher falando ao mesmo tempo!
Beijos,

denise disse...

Ei, ei, ei, o Jimmy é nosso rei!

Semana passada eu fui no consultório da "animada" Sílvia e ela também me falou do Jimmy! Pô, temos que socializar o cara.

Claudia Tojek disse...

Que Denise e essa you slut?
A Reis ou a outra que e irma da minha cunhada casada com aquele Marcos que nao gosta de gente bonita que mora em outro pais?
Vamos respeitar esse blog de gente de respeito e unicamente bonita e parar de tentar fazer inescrupulosas insinuacoes de futuras tentativas de conhecer "gringos" tais como o tal do Jimmy...que gato hein!!!