segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Comes e bebes

Para não viajar no orçamento, costumo fazer uma refeição barata e outra cara, a famosa técnica “vender o almoço para pagar o jantar”. O café da manhã é em casa, onde, sim, eu poderia cozinhar, mas não tenho nem talento nem paciência. Minha viagem tem sido, então, mais estética do que gastronômica, digamos assim. Até pretendia ir bons restaurantes, e tenho ido a alguns, porém com uma freqüência menor do que imaginava, por diversos motivos. Primeiro que meu foco são as expressões culturais, e então almoço ou janto nas imediações. Segundo é que nem sempre tenho coragem de entrar nos bons restaurantes, ou porque estou fedido e suado de longas caminhadas e, ao chegar ao restaurante, vejo que não é para meu bico, ou então é romântico demais para um viajante solitário, caro demais, fresco demais e estou com pressa etc. O fato é que já comi de tudo um pouco, do bom e do pior. Comecemos pelo bom.

Nova York está coalhada de grandes restaurantes servindo a culinária de praticamente todo o planeta. Quinze mil, segundo o Katia Zero, um de meus guias espirituais. Existem os clássicos, alguns com mais de cem anos, e os modernosos, que nascem e morrem feito moscas. Outro dia, sem querer, passei em frente ao Petrossian, que desde 1920 serve os melhores caviares e vodkas russos e é candidato natural a qualquer lista de cem melhores restaurantes do mundo. A decoração art déco, o chão de granito, o bar em mármore e as banquetas mink me convidaram a mudar de calçada. Afinal, um cara do Bronx como eu não pode ser visto num restaurante assim, onde até o valete que estaciona carros veste Armani. Mas em alguns eu entro escondido, quando os preços são convidativos.

Aliás, o que me derruba raramente são os preços pratos principais, que ficam entre 10 e 20 dólares, mas os acompanhantes (taça de vinho, U$7; sobremesa, U$ 7 a 10; cafezinho, U$4). Somando-se aí as taxas (mais ou menos 9%) e as malditas gorjetas “sugeridas” (15 a 20%), tudo pode ir para o beleléu.

Comi algumas vezes no Angelo’s, por exemplo, um restaurante que já foi sinônimo do Little Italy de Manhattan, mas que hoje está ao lado do auditório do David Letterman, em Midtown, que é um lugar de passagem para cima e para baixo, portanto prático. Fico de olho nas coisas diferentes de países esquisitos como a Turquia ou Índia, mesmo que ao pedir nem sempre eu saiba o que virá. Caso do Cafetasia, no Village, brasserie supostamente tailandesa, mas na verdade contemporânea e minimalista, onde resolvi experimentar o menu de degustação. Escolhi meio aleatoriamente de uma lista três itens para comer e um drinque. Vieram um espeto de carne, cebola e pimentão divinamente temperados com alguma coisa que não descobri, um gyo-za avinagrado de gengibre e frango, um crepe de tomate, amendoim e açafrão, tudo isso acompanhado de dois molhos condimentados, um barbecue e outro à base de shoyo, e uma bebida bem adequada, para não dizer o contrário: champanha rose com canela, quente. Para comer comida étnica autêntica, porém, uma boa idéia é sair de Manhattan e se aventurar para as bandas do Brooklyn, Queens ou Bronx, onde se encontram as comunidades de europeus e sulamericanos, e conseqüentemente suas cozinhas. É o que pretendo fazer, antes de partir.

Tenho comido muita massa com frutos do mar, talvez meu prato predileto (se não levarmos em conta coisas como feijão, arroz, carne moída, farofa e abóbora). Um grande momento foi no Smoke, onde fui com Jimmy para ouvir jazz, prova de que nem só de restaurantes vive a boa comida de Nova York. Eu nem estava com muita fome, mas para acompanhar meu amigo, pedi um prato de macarrão com camarões e mexilhões. O Smoke é um lugar escuro, pequeno e estava apinhado de gente silenciosa, então eu não levava muita fé na cozinha do lugar – afinal, jazzista que é jazzista não come; apenas fuma e bebe. Mas o prato estava simplesmente delicioso. O problema é que, enquanto meu vizinho parecia em transe com a virtuosa seqüência de músicos e músicas dissonantes, eu me via tentando desgrudar um mexilhão de sua concha sem afundá-lo na imensidão do macarrão à luz de uma mísera vela e sem fazer barulho.

Para quem não está podendo, há sempre os fast-food como os macdonalds e os burgerkings da vida, ou as carrocinhas de esquina, com cachorros-quentes, bagels, sorvetes e pipocas. Para lanches em geral, são muitas, muitas, muitas opções de delicatessen, cafés, lanchonetes, padarias chiques, cada uma mais apetitosa que a outra, para todos os bolsos. A rede Starbuck, que está se instalando no Brasil (por enquanto, só em São Paulo), aqui é uma praga, tanto quanto os esquilos. No Lindy’s, que prometia o melhor cheese cake do mundo, paguei (caro) para ver e a mocinha cumpriu sua palavra: um tijolo de pura caloria, com cobertura viscosa de morangos, tão perfeitamente vermelha que parecia de plástico, dessas que refletem a luz do teto. No Little Italy do Bronx (sim, existe outro, bem melhor e com italianos, ao invés de chineses), tive problemas em escolher o que comer. Vejam vocês mesmos por que, nas fotos a seguir.


Existem ainda excelentes opções para aqueles novaiorquinos mais naturebas ou que procuram uma melhor qualidade de vida, ou seja, os ricos. Eu mesmo tive de declinar de um convite para um restaurante japonês macrobiótico, pois não imagino nada menos calórico que isso. Prefiro, se o caso é estar em sintonia com a natureza, comprar frutas no mercado da fazenda que, todas as quartas-feiras, se instala dentro do NYBG. Comendo as maçãs vendidas ali, que parecem ter saído dos filmes de Walt Disney, sinto-me perfeitamente curado das panquecas com bacon do dia anterior.

Mas nem tudo são flores. O pior de Nova York são as comidas prontas, com destaque para um insuportável mashed potatos, que supostamente deveria se parecer com um purê de batatas, mas tem gosto de massa de modelar. O americano pelo jeito não liga, pois o mashed potatos é exibido com orgulho em todos os supermercados e servido até mesmo em restaurantes razoáveis. O feijão é outro. O modo de preparo aqui é o seguinte: coloque feijão para ferver, ponto. Sal a gosto. Morro de saudades do alho crocante, cebola, paio, e eu, que nunca soube para que servia o louro e suspeitava que era só para atrapalhar – o louro sempre vem no meu garfo – agora dou meu braço a torcer.

Manteiga, cismaram que mata, então inventaram um coisa para substituí-la. Estou falando da manteiga artificial, uma molécula inventada por algum cientista maluco, agindo sob pressão de alguma indústria oportunista, como por exemplo a Knorr, que lançou a inacreditável marca chamada “I Can’t Believe It’s Not Butter”. Como em toda história evolutiva dos mamíferos nosso aparelho digestivo jamais lidou com nada parecido, é muito provável que “I Can’t Believe It’s Not Butter”mate muito mais rápido que a boa e velha manteiga de vaca. O azeite, se não for em casas refinadas ou de cozinha européia, é um líquido timidamente oleoso, insípido, inodoro e incolor, mas totalmente desprovido de gordura trans – e é isso que importa, no final das contas. Tudo, aliás, pretende-se livre de gordura trans, outra coisa de que tenho saudades.

Sinto falta de banana amarela - aqui estão sempre verdes. E casas de suco. Não entendo por que, sendo os Estados Unidos um dos maiores produtores de laranja, não se encontre facilmente um suco natural dessa fruta por aqui. O renomado café americano é desnecessário comentar, mas tudo bem, é cultural e eu respeito; a opção do café expresso atende, não fosse uma xícara contendo meio dedo mindinho de café custar uma fortuna e só tapar uma cárie nos dentes de um brasileiro ávido. Queijo parmesão ralado é outra raridade. Pode ser que eu esteja comprando no supermercado errado, mas ralado por aqui só chedar ou mozzarela. Em resumo, a regra é: em restaurante médio para ruim, havendo a opção de comida pronta, em conserva, pré-fabricada ou artificial, é essa que servirão. E ninguém reclamará.

Para terminar, um elogio: um hábito muito cordial daqui é servir um copo d’água, grande e cheio de gelo, a qualquer pessoa que se sente numa mesa para comer. Isso é generalizado, dos pés mais sujos aos restaurantes mais granfinos, sinal de que é cultural. Acho isso de uma consideração com o freguês sem medida, sério. Tudo bem que água é um produto farto na região, já que toda Nova York fica na foz de um rio caudaloso, o Hudson, e você pode beber em qualquer bica, mas isso não diminiu em nada a gentileza. No começo eu estranhei, pois os garçons ou garçonetes nem pertanejam – sentou, água – e eu ficava olhando para os lados, ei, ei, ei, eu não pedi água; essa água eu não vou pagar! Agora costumei. Bebo tudo, já que é de grátis.

5 comentários:

denise disse...

É por isto que eu prefiro me aproximar sempre das expressões culturais gastronômicas... Aliás, quase meio dia por aqui, o que significa que tô louca por uma expressão cultural quentinha.

Claudia Tojek disse...

Eu nao quero que com esse meu comentario voce desista de vir aqui mas to planejando te levar pra comer pata de ra e insetos num restaurante tailandes...e serio!

Claudia Tojek disse...

Eu acho que americano (pelo menos o jon) nao gosta de suco de laranja fresco. Too fresh! assim ele me relatou quando eu comprei no supermercado farinha pura do Humaita toda orgulhosa.
Eles (nao o Jon) AMAM um suco de wheat grass que em outras palavras e...capim!
Tem um pequeno supermercado "organico" aqui e esse suco vende mais que weapons in na America!
Em qualquer supermercado grande voce pode encontrar azeites do mundo inteiro.
E tambem queijo parmesao ralado ou nao.
Tem supermercados gentalha tipo Sendas que e o Ralphs e os do tipo farinha pura que e esse que vou dizer o nome soon.
Infelizmente voce NAO pode encontrar queijo de minas ou requeijao. I miss!!!
Procura achar um supermercado whole foods que e espetacular e voce deve achar banana amarela mas infelizmente d'agua e nao a querida prata, em compensacao voce acha todas as berries que sao as que tem the polyphenols e sao chamadas de superfruits.
That's all.

Bia Gonzalez disse...

Finalmente, depois de 1 mês da sua viagem, eu consegui lembrar da minha conta no google e agora estou apta a fazer comentários: se você está com saudades da famosa gordura trans, entre em qualquer fast food que você terá o prazer de encontrá-la! Em relação ao Starbuck (acho que é assim que se escreve) a empresária que estava trazendo a rede para o Rio morreu há 2 semanas num trágico acidente na Av. Niemeyer. Uma pena...

Claudia Tojek disse...

The Acai Berry
A True Superfood?


Dr. Perricone has named the Acai berry as the #1 Superfood. The Acai fruit has been featured on Oprah, in the Wall Street Journal and the New York Times. Amazingly, the little Acai berry - about the size of a blueberry - is being called the miracle berry.

On this site we are not going to make outrageous claims about how Acai is the cure for everything that ails you. What we will say is that Acai may be one of the healthiest foods on the planet.

But before you get too excited and try to run down to the local fruit store to buy the Acai superfruit - we have some bad news. Acai only grows in the Amazon Rainforest and is very perishable. So, unless you live in the Amazon - you will not find fresh Acai at your local store.

Eu achei isso so pra complementar...who cares about bananas!